terça-feira, setembro 18

Sonho por viver.

     Dói quando algo fica por fazer. Quando uma memória ímpar fica incompleta e um sonho por realizar. Quando um percurso único e incomparável da nossa vida fica por viver e não podes rodar os ponteiros do relógio no sentido inverso e alterar o passado. Mas há dores que se curam com o tempo. Outras que se arrumam numa gaveta qualquer e mais tarde, aquando de uma limpeza, acabam no lixo. E depois há aquelas dores, resultado de uma vivência única e insubstituível na nossa vida que acabou perdida. Aquelas que passe o tempo que passar, chores o que chorares, nunca se hão-de dissipar.

     Tenho um buraco no peito, um nó na garganta, o estômago revirado e o coração desfeito desde que me apercebi de que não iria viver O Dia. O dia mais importante da vida académica dos estudantes universitários, o culminar de um dos percursos mais difíceis mas ao mesmo tempo mais deliciosos que a vida tem para nos oferecer. Não terei a pasta, não terei as fitas, não terei os colegas/amigos, não terei os familiares a acenarem-me orgulhosos nem os pais de lágrima no canto do olho, do meu lado, a posarem para as fotografias. Não terei nada, rigorosamente nada. 

     Hoje sei melhor do que nunca que, quando entrei em A., estava a entrar no curso errado. Mas, infelizmente, é tarde de mais. Tinha 18 anos, objectivos, sonhos... e ilusões. A ilusão de que a A., mesmo revelando-se não ser aquilo com que sonhava, me poderia fazer feliz. Pois bem, nunca estive tão errada em toda a minha vida. Quando o corpo, a mente e o gosto fraquejavam, receava que um dia tudo caísse por terra e não fosse o suficientemente forte para regressar ao ponto em que ficara. Os avisos estavam lá, eu é que não conseguia sequer conceber a possibilidade de desistir, limitando-me a dar sempre mais, mais, mais e mais de mim. Mas no dia em que o tudo não foi suficiente, por mais que tenha tentado não consegui dar mais. Não queria dar mais. Acabou-se o gosto, acabou-se o prazer, acabou-se a vontade. Assumi que o curso, que já estava a menos de metade de acabar, me tornara profundamente infeliz.

      Apesar das consequências da mudança, não me arrependo pois este percurso supostamente "difícil mas ao mesmo tempo delicioso", estava já transformado num filme de terror. Apesar da desistência continuo estudante universitária pois, mesmo não tendo concluído o Mestrado Integrado, pude aproveitar a Licenciatura para a inscrição noutro Mestrado. Mas apesar de tudo, o que comecei... não poderei fingir que acabei. E a dor do que fica por viver, que me vem matando por dentro, essa permanecerá intacta e eterna.




                                                                                                        09.2010

*, Lauz

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